quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Acordo judicial impede licitação para transporte público até 2022, diz CTMac

Acordo foi firmado em 2012 entre prefeitura e três empresas de ônibus.
Município diz que vai pedir a anulação da decisão ao governo federal.

Dyepeson MartinsDo G1 AP
CTMac diz que redução da frota ocorre no período de férias escolares (Foto: Maiara Pires/G1)Empresas ingressaram ações contra a prefeitura para o pagamento de mais de R$ 8 milhões (Foto: Maiara Pires/G1)
A prefeitura de Macapá e três, das cinco empresas que atuam no transporte coletivo na cidade, assinaram em 2012 um acordo judicial que impede a realização de licitações para a contratação de novas companhias de ônibus pelo prazo de 10 anos. O acordo foi firmado após as três empresas ingressarem ações contra o Município por causa de dívidas que contabilizavam mais de R$ 8 milhões.
A atual gestão municipal disse que a decisão, protocolada na 3º Vara Civil e de Fazenda Pública de Macapá, impossibilitou os certames mas destacou a existência de um edital “pronto para ser lançado”. O Município diz que vai pedir a anulação da decisão ao governo federal.
Em nota, o Setap informou que a dívida originou-se no ano 2000, quando, segundo a entidade, houve uma redução "arbitrária" na tarifa de ônibus. A medida teria causado prejuízos financeiros às empresas responsáveis pelas ações ingressadas contra a prefeitura.
Acordo foi resultado de ações ingressadas por empresas que atuam em Macapá (Foto: Reprodução/Tucujuris)Acordo foi resultado de ações ingressadas por empresas que atuam em Macapá (Foto: Reprodução/Tucujuris)
Entre as empresas que participaram do acordo está a Expresso Marco Zero, que iniciou as atividades na capital em 2009. Em uma ação ajuizada essa semana, o Ministério Público (MP) doAmapá apontou a concessão dada à empresa como fraudulenta. O suposto esquema incluía pelo menos sete pessoas entre gestores e funcionários públicos. A investigação é resultado da operação “Mãos Limpas”, deflagrada em 2010 pela Polícia Federal (PF).
Cristina Baddini, diretora-presidente da CTMac (Foto: John Pacheco/G1)Cristina Baddini, diretora-presidente da CTMac
(Foto: John Pacheco/G1)
“Estamos com uma ação junto ao Ministério das Cidades para cancelar esse acordo. Realmente nós estamos impedidos de licitar por causa dessa ação, mas nosso edital está pronto. A lei de licitação não permite isso e esses cálculos [das dívidas devidas pela prefeitura às empresas] não foram comprovados. Existe uma lei que determina que todas as prefeituras devem realizar novas licitações até 2015, do contrário, o munícipio vai perder recursos federais”, destacou a diretora-presidente da Companhia de Trânsito e Transporte de Macapá (CTMac), Cristina Baddini.
Cristina acrescentou que o acordo judicial atinge todas as empresas que realizam o transporte público em Macapá. “As outras duas empresas também haviam ingressado ações, mas não se manifestaram depois. Com uma nova licitação, existe a chance de que todas saiam e novas atuem na cidade”, acrescentou.
O Setap classificou como "mentirosa e ofensiva" a ação do Ministério Público. A entidade diz que o processo baseou-se em "interpretações equivocadas de gravações usadas pela Polícia Federal". Ainda segundo o Setap, a Expresso Marco Zero "passou a operar na capital dentro da legalidade, a partir da demanda surgida com a falência de duas empresas, no ano de 2009".
Expresso Marco Zero foi inserida no mercado de forma ilegal, segundo o MP (Foto: Dyepeson Martins/G1)Expresso Marco Zero foi inserida no mercado de forma
ilegal, segundo o MP (Foto: Dyepeson Martins/G1)
Concessão
A manifestação da prefeitura aconteceu após o Ministério Público ingressar ações penais e por improbidade administrativa contra ex-prefeito de Macapá Roberto Góes (PDT), o ex-chefe de gabinete do município Paulo Melém e os fundadores da Expresso Marco Zero Karen Cristina e Felipe Edson. Além deles, também foram denunciados o ex-presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros (Setap) Paulo Cardoso e o ex-vereador Gian do Nae (PMDB).
A ação revelou indícios de que os envolvidos em uma suposta fraude teriam recebido propina para facilitar a concessão dada à Expresso Marco Zero e articular a saída das empresas que, à época, atuavam na cidade.
G1 ouviu o advogado do ex-prefeito, o ex-chefe de gabinete e o sócio na empresa. Todos negaram a existência do suposto esquema. Os denunciados afirmaram que não foram notificados pelo Ministério Público para prestarem depoimentos sobre o caso. O G1 tentou contato com os demais acusados, mas não houve retorno.
Promotora de justiça Christie Grão (Foto: Dyepeson Martins/G1)Promotora de justiça Christie Grão
(Foto: Dyepeson Martins/G1)
A promotora de justiça Christie Grão, disse que os denunciados foram ouvidos pela Polícia Federal na época em que a operação “Mãos Limpas” foi deflagrada no Amapá. Ela ressaltou que “o Ministério Público não estava obrigado” a ouvir os envolvidos na susposta fraude antes de a ação ser protocolada.
“No momento das apreensões eles foram ouvidos. E em todas as nossas ações constam estes depoimentos. Eles serão novamente ouvidos em juízo e vão ter a oportunidade de falarem sobre os fatos, mas o Ministério Público está tranquilo sobre as provas no processo”, afirmou a promotora, acrescentando que a denuncia baseou-se em escutas telefônicas e depoimentos de testemunhas.
O MP teve acesso aos arquivos apreendidos na operação por meio de uma liminar concedida pela justiça federal no dia 26 de agosto.
Fonte: G1AP

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